Segundo o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), 5,8% de nossa população, ou 11,5 milhões de brasileiros, sofrem os efeitos nefastos desta doença silenciosa e avassaladora. Tais números expressivos indicam que, além de sermos os primeiros colocados da América Latina na incidência da depressão, estamos bem acima da média mundial, que é de 4,4%, ou 322 milhões de pessoas com a enfermidade no planeta.
Calma, tem muita bola para rolar até o apito final!

Fruto de uma complexa rede de fatores sociais, psicológicos e genéticos, a depressão não escolhe etnia, gênero ou idade. Para ficarmos no exemplo do futebol, jogadores de primeira grandeza, como Ronaldo Fenômeno e Adriano Imperador, já padeceram desse “Mal do Século”. Lesões seguidas e raras no joelho entre 1999 e 2002, no caso de Ronaldo, e a morte do pai em 2004 (Adriano) representaram o estopim para os respectivos quadros depressivos dos atletas. Recuperado, Ronaldo protagonizou a campanha vitoriosa do Brasil na Copa do Japão/Coreia do Sul. Já Adriano, após idas e vindas, parece ter largado o futebol definitiva e precocemente.

 Ainda no esporte, só que em outras modalidades, o multimedalhista olímpico da natação, o americano Michel Phelps, e o ginasta brasileiro Diego Hypolito precisaram de tratamento contra a depressão depois das Olimpíadas de 2012, em Londres, para se reerguerem e garantirem medalhas nos Jogos do Rio 2016.
Fatores de risco e sintomas

Depressão não é sinônimo de tristeza, nem sinal de loucura, fraqueza e preguiça; é doença. Pode ser desencadeada por outras enfermidades, como infarto, AVC, diabetes ou transtornos psiquiátricos correlatos. Ocorre também devido a desequilíbrios na biodinâmica cerebral, que diminuem a oferta de neurotransmissores como a serotonina, ligada à sensação de bem-estar. Chega, inclusive, a promover alterações fisiológicas, como baixas no sistema imune e aumento de processos inflamatórios.

Distúrbios no sono, alterações no apetite, falta de concentração, cansaço sem causas aparentes, diminuição da libido, baixa autoestima, abuso de álcool, tabaco e drogas ilícitas, tristeza persistente (por ao menos duas semanas seguidas) vão se somando e se sobrepondo sem controle, caso não haja intervenção profissional. Em 2016, no Brasil, cerca de 75 mil trabalhadores foram afastados de seus empregos pela Previdência Social em decorrência da patologia. Conforme a OMS, até 2020 a depressão será a doença mais incapacitante em todo o mundo.

O maior risco de todos, não há como não falar, é o suicídio – ponto cabal de histórias que escalam etapas envoltas em vergonha, culpa e preconceito. O ano de 2015 contabilizou 788 mil suicídios no mundo. Estes desenlaces representaram a segunda causa de morte entre jovens de 14 a 29 anos. Está mais do que na hora de os governos aumentarem seus investimentos em saúde mental.

Tratamento – vencendo o estigma

A boa notícia é que a depressão pode ser controlada, desde que a pessoa afetada supere preconceitos e abrace o tratamento. Geralmente, a atuação conjunta entre psiquiatra e psicólogo é a mais recomendada. O primeiro para entrar com medicações nos casos graves, e o segundo para identificar conflitos, auxiliar o paciente a encará-los e ajudá-lo a mudar padrões de comportamentos arraigados (compulsões), muitas vezes, desde a primeira infância – por meio da psicoterapia.

Para melhorar ainda mais, outros profissionais podem e devem ser escalados na formação desta equipe multidisciplinar, como nutricionistas e educadores físicos, tudo em nome da superação. Utilizar os serviços de organizações como Centro de Valorização da Vida (CVV), Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA) também são bons complementos.

Seguindo esta tática, a depressão só tende a perder espaço no dia a dia das pessoas. Afinal, somos todos atletas da vida, driblando adversários como a tristeza e a prostração, jogando para escanteio o sedentarismo e o estresse crônico, impondo barreiras a maus hábitos. Enfim, comemorando juntos cada gol de placa conquistado, com sabedoria, emoção... e FELICIDADE!